"A urgência do desejo e a infâmia da felicidade pertencem há muito a um outro tempo, se bem que a cada passo o meu cérebro se deixe levar pela sedução. Umas vezes é um certo gingar na rua, outras vezes, na loja, duas mãos. No carro eléctrico, é um certo jeito de procurar lugar. No compartimento do comboio, à pergunta: Está ocupado, aquela hesitação arrastada e, logo a seguir, confirma-se a minha intuição naquele certo jeito de arrumar a bagagem. No restaurante, independentemente da voz, é aquele certo jeito de o empregado dizer: O cavalheiro deseja."
"Tudo o que eu Tenho Trago Comigo", de Herta Müller (p. 282; D. Quixote, 2010)