sábado, 22 de novembro de 2014

"Che Guevara era um terrível homofóbico"

É tímido o homem que sai do elevador no átrio do hotel. É o mítico Bruce LaBruce, cujos filmes usam a pornografia como forma de discurso artístico e político. Visitou Lisboa no primeiro fim-de-semana de Novembro para participar no ciclo “Harvard na Gulbenkian”, durante o qual foram exibidos Super 8 ½ (1994) e Gerontophilia (2013). Aos 50 anos, o realizador nascido em Ontário, no Canadá, cujo primeiro filme é de 1987 (Boy, Girl), continua a querer ser visto como dissidente. Pode ter filmes em Sundance ou Locarno, mas não alinha com apocalípticos ou integrados. Move-o o fetichismo e o tabu. Aparentemente ansioso, senta-se a conversar com a Time Out Lisboa num sábado de manhã.


Gerontophilia foi muito criticado por representar a sua normalização enquanto realizador. Será?
De certa forma, sim. Mas foi essa a minha intenção. Espera-se que faça sempre a mesma coisa e a única maneira que encontrei de continuar a ser polémico foi fazer um filme para o grande público. Quis pegar num assunto próximo das temáticas que costumo filmar, o fetichismo e o amor proibido, e dar-lhe uma forma narrativa mais comum. Na verdade, Gerontophilia não é assim tão diferente daquilo que já fiz. Há elementos românticos nos meus filmes anteriores, para lá do sexo explícito, e uma estrutura narrativa forte, apesar de fracturada e pouco convencional.
Vai abandonar a pornografia?
De maneira nenhuma. Há alguns anos tentei fazer filmes mais comerciais e nunca encontrei o argumento e o orçamento certos. Se calhar, não tinha vontade. Desta vez, foi possível.
Não se arrisca a perder o seu público?
Algumas pessoas ficaram desiludidas, mas era esse o objectivo: trabalhar contra as expectativas. Pierrot Lunaire [o mais recente filme, exibido este ano nos festivais IndieLisboa e Queer Lisboa] é um filme de baixo orçamento, com bastante violência, mas também diferente de tudo o que fiz até hoje. Ando a fazer coisas diferentes.


[excerto da entrevista publicada na Time Out Lisboa de 19 de Novembro de 2014, pp. 64-65]