domingo, 1 de janeiro de 2012

Feliz ano novo

"Aquilo a que assistimos hoje, e que se tornou transparente como nunca com a reacção dos Estados à primeira crise do capitalismo global surgida nos fins de 2008, é uma confiscação da política pela 'economia', por uma ordem económica imperial e imperativa, absolutamente determinativa, que nessa sua absoluta determinação ou imperatividade se pretende pré-política ou supra-política, não política portanto.

[...] Chamam-lhe a 'nova economia', a 'economia do conhecimento', uma economia do capital como 'capital humano', que seria em si mesma pós-classista, neutra, apolítica, mas trata-se de facto de uma neo-economia de sobre-exploração de uma mão-de-obra, mesmo intelectual, precária, forçada à flexibilidade, à auto-flexibilização por formação profissional contínua. 

[...] Bizarro destino o da nova esquerda, convertida em consciência crítica do sistema político-económico reinante e nada mais querendo que o 'aprofundamento democrático' deste [...] e por isso temendo as rupturas [...]. Uma esquerda e até uma extrema-esquerda que se concentra nas questões ditas 'fracturantes', nas novas 'causas' sociais, numa política de promoção de novos 'direitos'. Trata-se pois já só de 'modernizar' o sistema, não de o combater [...].

O esquerdismo moderno, pós-revolucionário ou pós-comunista, como parte ainda do sistema político-económico de dominação porquanto componente necessária em termos objectivos da imagem de democraticidade desse sistema."
Sousa Dias
"Grandeza de Marx: Por uma Política do Impossível"
Assírio & Alvim, 2011
(pp. 71-78)