quarta-feira, 23 de julho de 2014

Já sabe o que vai ler nas férias?

Bruno Horta cumpre a tradição estival da secção Gay da Time Out e recomenda-lhe seis livros LGBT para os dias de descanso.

Propaganda
Joana Estrela
Plana Press, 10€
É a primeira obra de fôlego de Joana Estrela, ilustradora de Penafiel, de 23 anos. Estudou design na Faculdade de Belas- -Artes da Universidade do Porto e em 2012 tornou-se voluntária da Liga Gay da Lituânia, onde ajudou a preparar a primeira edição do Baltic Pride. A experiência deu o mote a este diário gráfico, escrito em inglês. Vende-se no site planapress.org.

Notícia do Maior Escândalo Erótico-Sexual do Século XX em Portugal
Zetho Cunha Gonçalves
Letra Livre, 14€
A Nota Prévia esclarece:  “O presente livro reúne pela primeira vez e na íntegra a totalidade dos textos que enformam a polémica gerada em torno da segunda edição do livro Canções, de António Botto.” A polémica é sumarenta, passa-se na Lisboa dos anos 20 e mete ao barulho Fernando Pessoa, Raul Leal, Júlio Dantas e Marcello Caetano. Além, claro, de Botto,  o nosso primeiro poeta homossexual digno desse nome, vítima da intolerância selectiva em Portugal.

O Caso Renato Seabra: Por Detrás das Cortinas
Marta Dhanis
Chiado Editora, 14€
Muito criticado por revelar sem autorização correspondência trocada entre Renato Seabra e a autora, o livro tem, afinal, apenas uma página (entre 118) com duas breves missivas. Assinado pela correspondente da TVI nos EUA, a obra conta escabrosidades colhidas em tribunal e reconstitui a relação do cronista Carlos Castro com o modelo Renato Seabra, aquele assassinado por este em Janeiro de 2011 num hotel de Nova Iorque.

Pompas Fúnebres
Eduardo Pitta
Ulisseia, 14,90€
Aqui se reúnem 48 crónicas que Eduardo Pitta publicou na revista Ler entre 2008 e 2014. Sempre obcecado com pormenores, datas, nomes, categorias, o autor carrega na sua já conhecida veia politicamente incorrecta e no seu não menos conhecido estilo irónico e sintético. Os textos não vêm datados, o que é pena, e por isso organizam-se em sequência lógica, não cronológica. Lê-se na página 19: “Fosse como fosse, Emily Dickinson isolou-se por opção. No quarto, só mesmo Helen Hunt Jackson, antiga companheira dos bancos de escola, e, sim, também isso em que possam conjecturar.” Promete. Mas só está à venda a partir da próxima semana.

Retrato de Rapaz
Mário Cláudio
D. Quixote, 13€
A atracção homoerótica que as classes baixas exercem sobre as classes altas ou burguesas é estudada pelas ciências sociais desde há pelo menos 30 anos. Não consta que a hipótese existisse nestes termos na viragem dos séculos XV para XVI – época que viveu Leonardo da Vinci. Mas é essa atracção, isenta ainda de identidades sexuais definidas, que Mário Cláudio explora numa prosa superior. O mestre renascentista apaixona-se (dê-se   o adjectivo que se queira a esta paixão) por um miúdo pobre que vai parar à sua oficina. A perda da beleza e da juventude, tema clássico em autores homossexuais, paira ali a tempo inteiro. 

Poemas Homoeróticos Escolhidos
Paulo Azevedo Chaves, Raimundo de Moraes
Index ebooks, gratuito
“Mas tu, amado, também te pões/ Assim como o sol, e crescem/ À minha volta as sombras/ Da solidão, velhice, morte.” Eis um dos clássicos homoeróticos, este assinado por Luis Cernuda (1902- -1963), que Paulo Azevedo Chaves e Raimundo de Moraes, ambos brasileiros, seleccionaram para a ocasião (alguns em tradução nova). Além disso, aparecem aqui originais daquela dupla. O livro, editado no Brasil em 2011 e agora repescado pela portuguesa Índex, é recomendável a quem não consegue ir de férias sem levar atrás a parafernália electrónica (sim, é um livro digital).
 
[textos publicados na Time Out Lisboa de 16 de Julho de 2014, pp. 72]