Viveu preso num hospital psiquiátrico entre 1949 e 1986. Todos o disseram louco mas a única “doença” que lhe apontaram foi ser homossexual.
Valentim de Barros em 1968 (foto de José Fontes) |
O bailarino português Valentim de Barros morreu há precisamente 28
anos, a 3 de Fevereiro de 1986. Tinha 69 anos e passou quase quatro
décadas encarcerado no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa. Teve aulas
de dança no Teatro Nacional D. Maria II, foi estrela cadente em palcos
de Barcelona, Berlim e Estugarda, assistiu à ascensão dos nazis na
Alemanha e chegou a ser preso pela polícia política em Portugal. Um dia,
apagaram-no da sociedade. A vida diletante, o incerto fetiche pelo
travestismo, a homossexualidade e os excessos da sua personalidade podem
ter sido os motivos. Foi internado, operado ao cérebro, depois
transferido para uma ala de segurança. Alimentou-se das memórias dos
breves anos em que dançou e, mais tarde, a única afeição que conheceu
foi a de médicos e enfermeiros. Chegou a ser entrevistado pelo “Diário
de Lisboa” e pelo “Expresso”, mas vem a morrer doente e abandonado num
quarto de hospital.
Maior que a vida, a história de Valentim é aqui reconstituída pela
primeira vez na íntegra, com base em documentos inéditos. Por Bruno Horta.